Laura Pigossi teve uma temporada de altos e baixos. Em alguns momentos, como na disputa de Roland Garros, ela mostrou um grande tênis e flertou com a entrada no Top-100 do ranking da WTA. Em outros, sofreu com eliminações em primeiras rodadas diante de tenistas com ranking bem inferior.
Neste domingo, ela teve o ponto alto de 2024 ao vencer o ITF W75 de São Paulo. Durante o torneio, ela atendeu ao DIÁRIO DO TÊNIS no clube Paineiras, fez uma análise da temporada, revelou metas e planos para o futuro e fez um alerta para as jovens promessas do Brasil, como Nauhany Silva e Victoria Barros.
“Vai muito além do talento. É persistência, comprometimento com a profissão. É abdicar de coisas que talvez sejam importantes. Tivemos jogadoras de 14 anos que eram estrelas, nomes grandes e acabaram não vingando Eu não era nada disso e conquistei uma medalha olímpica. A dedicação que eu tive, o comprometimento foi o que fez a diferença”, afirmou Laura Pigossi.
Na entrevista de pouco mais de dez minutos, além de mostrar muita simpatia, Laura Pigossi revelou que uma lesão no cotovelo a atrapalhou um pouco nos últimos meses, falou sobre a expectativa pelo confronto contra a Argentina pela Billie Jean King Cup, em novembro, no Ibirapuera, e sobre os projetos fora das quadras. Confira os principais trechos abaixo.
DIÁRIO DO TÊNIS: Quais são suas metas até o final da temporada?
Laura Pigossi: A meta que eu tenho bem clara é entrar direto na chave do Australian Open. Esse ano, com a mudança nos pontos na WTA, eu sabia que seria um pouco mais complicado. No torneio da Argentina que eu ganhei ano passado, por exemplo, eu somei 160 pontos. Neste ano, mesmo que eu ganhe de novo, vou somar 120. Eu venho de uma lesão no cotovelo, de estar jogando com altos e baixos, teve dias bons e ruins, mas isso faz parte da vida do atleta. Estou feliz de estar saudável agora e desfrutando na quadra. E ganhar das argentinas….rs. É algo que está na minha lista. Vai ser um belo confronto. Jogar no Ibirapuera é uma das melhores sensações da minha vida, algo que eu guardo com muito carinho. Infelizmente, ano passado estava com intoxicação alimentar, faltou um pouquinho para ganhar o primeiro jogo, mas espero que esse ano seja melhor”
DT: E qual foi o momento marcante da temporada?
LP: “Roland Garros foi algo que eu sonhei desde criança poder disputar a chave principal, ainda da maneira como foi, o jogo contra a Marta, 4 a 0 no terceiro set, a chuva….(relembre o jogo aqui). É algo que eu levo porque eu posso jogar de igual para igual com a número 17 do mundo. Isso é o que me motiva muito para continuar treinando e saber que minha hora vai chegar”
DT: Você já tem projetos fora das quadras, como uma Hamburgueria na Espanha. Você já fez faculdade? Tem algum outro projeto em andamento?
LP: Eu terminei a faculdade de administração de empresas, mas ainda não fiz um Master. Quero fazer algo mais específico. Sou mais de humanas, não sou de exatas, mas achei que era importante. Se eu quiser fazer uma marca de roupas ou, até dentro de uma marca grande, ter uma linha minha. O estudo abre a cabeça e você nunca sabe o dia de amanhã. Tem de estar preparado para tudo. Tento não ficar só no nicho do tênis, tento abrir um pouco mais. É importante ter outras coisas. Eu também fiz uma parceria com a Cathy Beauty, tive a minha marca de esmaltes dentro da marca deles. É algo que eu tento expandir na minha carreira e estou gostando bastante.
DT: Você e Bia Haddad, por exemplo, não tiveram exemplos tão próximos no tênis, a Maria Esther estava muito distante. Você acha que hoje vocês são espelhos para a nova geração?
LP: As meninas da nossa geração sempre falam, eu, a Bia, a Carol (Meligeni), a Luisa (Stefani), que a gente quer fazer diferente, dar essse espelho para as meninas que estão vindo. Nos torneios do ano passado em Feira de Santana, Brasília, eu só treinava com as brasileiras, as menores. Isso ajuda muito a crescer o nível no país. Não dá para ficar só esperando pelas entidades.
DT: Hoje a gente tem grandes promessas no tênis feminino, como a Nauhany Silva e a Victoria Barros. Quais conselhos você pode dar para essas garotas e onde você acha que elas podem chegar?
LP: A carreira da tenista é muito longa. É difícil você colocar expectativa em uma menina de 14 anos. Ela pode ter o maior talento do mundo e acabar não chegando. É algo que aconteceu, por exemplo, com o Tiago Fernandes. Ganhou o Australian Open e a pressão ficou muito grande. Vai muito além do talento, é persistência, comprometimento com a profissão. É abdicar de coisas que talvez sejam importantes, datas, aniversários, festas. Essa é a maior dificuldade do tenista. Ter essa dedicação ao longo dos anos. Se conseguir fazer isso, com certeza elas vão ser jogadoras incríveis, de ponta. Elas têm total capacidade, mas precisam continuar trabalhando. Tivemos jogadoras de 14 anos que eram estrelas, nomes grandes e acabaram não vingando Eu não era nada disso e conquistei uma medalha olímpica. A dedicação que eu tive, o comprometimento foi o que fez a diferença. De tanto treinar as pessoas falam que eu tenho talento, mas não é isso. É trabalho. Os jovens precisam entender isso.
DT: E você acha que essa nova geração tem esse entendimento?
LP: Eu acho que hoje em dia está muito mais aberto. A Bia estar onde está, a medalha olímpica, a cultura do tênis está vindo para o Brasil e isso faz muita diferença. Os técnicos também conseguem passar muito mais isso para as crianças e jovens tenistas e, com certeza, a gente vai ver muito mais tenistas nos próximos cinco, dez anos.
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